quarta-feira, 15 de junho de 2011

Um ataque monumental

editorial
por: Glauber Pereira
JM
[23h:13min] 15/06/2011 - OPINIÃO

É urgente distinguir claramente locais que pertencem à memória pública daqueles prédios velhos que podem realmente ficar melhores se reformados


Desde que o polêmico divisor de águas caracterizado, de um lado pela premente necessidade de construir para satisfazer a demanda por habitações numa cidade que cresce e, de outro, por um grupo cada vez mais forte que tomou a si o dever de preservar prédios antigos, jamais havia se visto uma ação tão violenta. Eis que a torre do Castelinho, prédio antigo que dá lugar a todo o condomínio tradicional de Bagé quase veio abaixo na tarde de ontem por obra e nome do desenvolvimento.
A priori não se pode mensurar se o problema maior está na falta de informação ou na ausência de sensibilidade dos responsáveis pelo trabalho executado por três operários. Afinal, informações colhidas pela reportagem do Jornal MINUANO dão conta de que o conjunto arquitetônico do castelinho é tombado e deve ser protegido pelas autoridades locais, fato que gerou, inclusive, ação civil pública contra o avanço da destruição averiguada nas ameias, aquelas elevações graduais que tão bem caracterizam antigas fortificações. Mas nem tal proteção foi suficiente.
A tentativa constitui-se, então, em maior agressão ao patrimônio se for a ela contabilizada mais de uma dezena de prédios antigos que vieram abaixo nos últimos avanços do mercado imobiliário de Bagé, embora alguns prédios reservem algum questionamento quanto à sua importância arquitetônica ou histórica. Contudo, a estética óbvia e a ligação entre o cenário formado pela edificação e a comunidade de Bagé justificou real estupefação entre as testemunhas. E se, além destes argumentos, somar-se o fato de que a cidade vive a plenitude das comemorações de seu bicentenário, o fato torna-se inconcebível.
O acontecimento faz cada vez mais urgente uma movimentação da prefeitura de Bagé na proteção de seu patrimônio material e imaterial, uma vez que, com exceção de um inventário que protege 20 prédios da cidade, executado pela Urcamp no ano de 2009, pouco se tem visto no sentido de um posicionamento público sobre o tema. É preciso estabelecer um critério confiável e técnico para defender aquelas construções que integram o imaginário local, que constroem a identidade do bajeense. É urgente distinguir claramente locais que pertencem à memória pública daqueles prédios velhos que podem realmente ficar melhores se reformados.

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