segunda-feira, 11 de julho de 2011

Mamãe faz 200

por: Sapiran Brito

Como toda mulher faceira, mamãe nega a idade. Ela diz que, agora, dia 17, estará fazendo 200 anos.
Cá pra nós e que ninguém nos ouça, mamãe é bem mais antiga, mas no momento agarra-se à cronologia do calendário para se fazer mais jovem, só assim pode se apresentar faceira sem cair no ridículo. Ao longo do tempo submeteu-se a várias cirurgias plásticas para escapar das marcas do tempo e apresentar-se sempre formosa, afinal, ela tem muitas rivais que, mesmo não chegando aos pés de sua beleza, tentam a ela se equiparar. Aí, ela cai em contradição e exclama: “eu sou a quinta mais antiga”. Logo se dá conta e, triunfante, repara: “porém, entre vocês todas, eu sou a rainha”. E segue no seu passeio, airosa e altaneira, transitando entre as mais prendadas.
Mãe de muitos filhos, nunca quis casar, porém, de quatro em quatro ou oito em oito anos, troca de namorado que vai à loucura quando dispensado tal o fascínio que essa senhora exercer sobre os homens. Se por um lado é totalmente desapegada aos amantes, dá-se de corpo e alma aos amados. Abriga, acarinha e ama seus filhos com inaudita força, quase ao ponto de sufocá-los; sofre pelos que a abandonaram e chora pelos que partiram. Brinda a todos com talentos vários que são o seu orgulho e a sua gratificação. Acolhe os adotivos com o mesmo carinho que dedica aos naturais. Como boa mãe, para ela todos são iguais, nenhum tem defeito e ai de quem os magoe, sobre estes, ela lança pragas e maldições.
Quando chega perto do seu aniversário, ficamos todos pensando que mimo lhe oferecer, logo a ela que já recebeu todo tipo de presente e ficamos matutando que coisa original poderíamos lhe oferecer nesta data. Me atrevo a dizer que sei o que ela quer, pois sou daqueles que também sabe aprender com os mais novos e ouvi de meu filho, Zeca, um dia desses, a frase: “os 200 anos são apenas uma desculpa para nos amarmos mais”. Não é que o danado do guri tinha razão, é só isso que a velha quer. Que venhamos todos a diminuir o nível de exigência para com o outro. Que paremos de julgar nossos irmãos e que passemos a descobrir qualidades onde até então só víamos defeitos, que cheguemos ao ponto de eliminar os preconceitos e que risquemos do nosso vocabulário a palavra inimigo. É só isso que mamãe quer, que nos enxerguemos como ela nos vê, ou seja, todos iguais. Sem distinção de credo, classe, cor ou capacidade intelectual. Para ela, somos todos bebês, crianças imaturas em busca da felicidade, por isso ela consola nossa dores e cura nossas chagas e espera que façamos o mesmo com os nossos irmãos, maiores ou menores, e, se não for assim, ela ralha conosco e nos põe de castigo, porque mamãe sempre sonhou com uma grande família unida e fraternal.
Agora, no bicentenário, teremos mais uma oportunidade de deixá-la contente, que é de lhe oferecer um presente diferenciado, já que lhe oferecemos tanto trabalho, realizações e brilhos, chegou o momento de retribuir entregando algo que possa ser compartilhado com todos, como fatias de um grande bolo -e tem que ser de três camadas: uma de amor, outra de mais amor e mais uma de muito amor!

FONTE JM

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