quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Urcamp vai expor Pedra da Lua

Buscando dar publicidade para o patrimônio histórico à disposição do Museu Dom Diogo de Souza, a reitora da Universidade da Região da Campanha, Lia Maria Herzer Quitana, reuniu um grupo de trabalho para planejar uma mostra da Pedra da Lua na programação comemorativa aos 200 anos de Bagé. No faro dos grandes e inusitados fatos, o escritor Fabrício Carpinejar está na cidade colocando seu texto e um inestimável senso de humor a serviço de uma investigação histórica. Com o objetivo de compor material para a coluna Beleza Interior, publicada aos sábados no jornal Zero Hora, Carpinejar, acompanhado do fotógrafo Tadeu Vilani, obteve, com a ajuda da reitora, boas pistas que revelam detalhes inéditos ao momento em que o ex-presidente Emílio Garrastazu Médici legou à Rainha da Fronteira um presente de outro mundo: um fragmento de pedra lunar. O encontro, que no início parecia mais uma pauta formal, foi se descontraindo na medida em que o repórter-escritor ganhava a confiança de seus entrevistados. Carpinejar arrancou sorrisos e boas informações do advogado do ex-presidente da República e ex-professor da Urcamp, Fernando Sérgio Lobato Dias. Quem diria que uma das peças de valor mais elevado no patrimônio da Urcamp, estimada em 10 milhões de dólares fosse resultado de uma ação de carinho entre amigos. O presente acabou sendo doado ao historiador Tarcísio Taborda que imediatamente o integrou ao acervo do museu. Todos os detalhes da entrevista realizada na tarde de ontem estarão na coluna de sábado. Uma pedra no caminho Enquanto várias instituições têm uma pedra no sapato, a Urcamp tem uma pedra sobre a mesa. Assim pode se resumir uma instituição que, mesmo tendo a necessidade de superar desafios, não abre mão de um patrimônio que é da sociedade local. Contudo, algumas informações oferecidas pela reitora da Urcamp Lia Quintana chegaram a deixar o entrevistador um tanto “assombrado”. Mesmo com uma dívida fiscal que se aproxima dos R$ 200 milhões, a universidade busca respeitar suas oportunidades históricas: em vez de pensar em comercializar a peça, vai aproveitar o apelo da Pedra da Lua organizando exposições que arrecadem recursos e prestígio para a instituição. Questionada sobre as alternativas para mudar a situação, Lia Quintana disse que tudo passa por um processo de negociação com o governo federal e de opções como a otimização de recursos que a universidade já dispõe. Para uma das curadoras dos museus da Urcamp, Carmem Barros, sonhos não têm preço. “A pedra preserva um contexto histórico marcante, é um registro da fase da corrida espacial e, portanto, é parte do sonho humano de chegar além, de buscar seu destino até fora do planeta”, justifica ao acrescentar que o tema é também uma excelente fonte de conhecimentos. Um pouco de história **** Nas décadas de 60/70 do século passado, o mundo estava dividido politicamente. Ao final da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), Estados Unidos e União Soviética compunham as duas forças dominantes sob o ponto de vista geo-político mundial. O primeiro representava o pensamento liberal e capitalista, o segundo reunia doutrinas socialistas e comunistas que dividiram o globo terrestre entre alinhados ou não alinhados, segundo as perspectivas das duas potências. Esquerda e direita eram, então, vertentes respeitadas e temidas e, nos mais variados campos de atuação, levar a melhor contra os inimigos era a melhor forma de mostrar a superioridade de seu processo civilizatório. Conhecida como Guerra Fria, esssa disputa, logicamente, chegou aos esportes, artes e ciências, mas talvez não tenha somado um caráter tão importante quanto aconteceu com as descobertas e aventuras espaciais. Russos e americanos disputavam, também no espaço, a grande conquista da lua: os heróis agora eram astronautas. Depois de várias missões que resultaram na chegada do homem ao solo lunar, em 1969, os americanos realizaram a última aventura espacial. Com a missão Apollo 17, os últimos blocos de rocha lunar foram colhidos e trazidos à Terra para um objetivo menos belicoso, porém não menos importante aos objetivos políticos: presentear países aliados. Em 1972, três meses após o retorno da última missão - a Apollo 17, o presidente Richard Nixon compartilha com o mundo mais uma rocha. Recolhida no vale lunar de Taurus-Littrow, a amostra, batizada de 70017, foi fragmentada e cada uma das peças recebeu um protetor de acrílico. Depois foi montada numa placa de madeira contendo, como as peças colhidas nas missões anteriores, a bandeira de um país amigo. Representante de um governo alinhado ao processo econômico e diplomático americano, o general Emílio Garrastazu Médici recebeu uma dessas, por ocupar o cargo de 28º presidente do Brasil. O bajeense homenageou a terra natal com a peça que foi integrada ao acervo do Museu Dom Diogo de Souza, fundado em 1955. Em setembro de 2002, boatos de que a pedra estaria à venda renderam cobertura dos grandes veículos de comunicação do centro do país. Mas, como dá para perceber, a relíquia da corrida espacial está intacta e pronta para ser resgatada aos olhos populares.

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