domingo, 17 de julho de 2011

Bagé Bicentenária - O pôr do sol de Dom Diogo


ESTE AQUI TAMBEM COPIEI DO BLOG DA VELHA GUARDA DO CARLOS KLUWE, ALÉM DE UMA FOTO BELÍSSIMA, SEU TEXTO TAMBÉM MERECE NOSSOS ELOGIOS.

Há exatos duzentos anos Dom Diogo de Souza, do alto do que seria chamado Cerro de Bagé, viu um pôr do sol como este, fotografado hoje, dia 17 de julho de 2011. Não sei, mas me permito imaginar o que Diogo pensou naquele fim de dia... um local tão privilegiado não deveria ser apenas um acampamento provisório. Deixaria ali parte de seu grupo, um pouco mais abaixo do cerro, num local mais próximo de generosas e límpidas águas, para seguir mais à frente. Uma decisão difícil de tomar. Deixar parte de sua companhia acampada ali, onde havia mulheres e crianças, e ir um pouco mais adiante, apenas com parte de seus comandados. Quero crer que esta paisagem ímpar do Pampa tocou-lhe os sentimentos. O lugar era lindo demais. E essa sua decisão marcou todos nós, os que depois nasceram por estas plagas, um pouco por causa de um pôr do sol... Mas não era apenas mais um pôr do sol visto por Diogo. Era também o ar frio e seco daquele longínquo inverno de 1811, de um dia de inverno que mudaria a geografia da região. Um dia para fixar um acampamento, para ali ficar, para ali frutificar, para ali multiplicar. Hoje, passados 200 anos desse dia, estou no alto do Cerro de Bagé. Volto meus olhos para o horizonte e minha mente para o passado distante, e tento pensar como Diogo. Terá ele imaginado o futuro? Teria previsto as gentes que aqui nasceriam e nas que para cá viriam, algumas de muito longe? Terá ele pensado que este mesmo pôr do sol encantaria – como a ele encantou, certamente, os muitos olhos que o veriam, por tempos e tempos a fio, do alto destes cerros? A verdade é que Diogo acertou. Sua decisão hoje completa Dois Séculos. Dois Séculos de história, de cultura, de lutas, de vitórias, de dificuldades, mas, principalmente, de muita vontade de seguir em frente. Orgulha-te, Diogo! Estamos aqui no alto deste Cerro pensando em ti, rendendo-te as homenagens devidas e te dizendo: Valeu a pena ficar. Aqui nasceu uma cidade que se orgulha da decisão de seu fundador.


LC Vaz

“UMA VELHA RAINHA”

LI ESTE POEMA NO BLOG DA VELHA GUARDA DO CARLOS KLUWE, ACHEI MUITO LINDO E COPIEI.
VOU PUBLICÁ-LO PARA QUE VCS TB VEJAM A BELEZA EM SUAS LINHAS...

Dois séculos se passaram
e a vila desenvolveu,
demonstrando a todo o mundo
que no pampa aqui do fundo
um certo povo cresceu,
tal qual mostrando a figura,
a coragem e a bravura,
que o Patrão Velho lhe deu.

Pelearam valentemente
para demarcar o povoado
que ficou fortificado
com o nome de “Santa Tecla”
e é certo que ninguém peca
quando o tem elogiado,
povo nobre e despojado
das malícias de sapeca.

Certificou Dom Diogo,
lá naquele mês de junho,
que os gaúchos tinham punho
para a vila construírem,
e que os outros admirem
tamanha tenacidade.
força bruta, hombridade,
sem jamais se diminuírem.


Pedro Farias da Cunha

A Rainha

por: Greice Martins

[02H:10MIN] 16/07/2011 - ESPECIAL BICENTENÁRIO

Estou velha.


Duzentas primaveras, e que primaveras... ou seria melhor dizer outonos? Se fosse europeia seria jovem, mas sou americana.
O importante, porém, é que estes dois séculos estão sendo bem vividos.
Nem todas as cidades têm esta sorte. Lembram-se de Pompeia, ou de Bagdá mais recentemente?
A natureza foi benévola comigo. Pradarias a se perder de vista, povoadas de gado, ovelhas, cavalos.
Não fui planejada.
Nasci de uma noite de amor à beira de um arroio, ao sopé de cerros, na taba de meu pai. Sou índia pampeana, filha do feiticeiro, homem que veio do céu, o Cacique Ibagé. Morena, pele acobreada, estatura média, boca grande e lábios carnudos.
Quando jovem montava a cavalo, com os cabelos ao sabor do vento. Isto já faz muito tempo, mas adoro recordar. Sinto o perfume das madressilvas e a melodia dos bem-te-vis.
Fui disputada por portugueses e espanhóis, mas, seguindo meu pai, preferi os primeiros.
Comecei minha trajetória num acampamento. Lembro-me especialmente daquele inverno, tão frio e chuvoso. Dos soldados, dos doentes, das mulheres e dos comerciantes que Dom Diogo me deixou. Casas de torrão, cobertas de palha.
Logo passei à vila e com a força e coragem dos pioneiros tornei-me cidade.
Da beira do arroio Paço do Príncipe, fui cada vez mais longe, criando veias com nomes como: da Castanheira, do Portão, Alegre, da Condessa, da Aurora, das Flores, do Pinheiro.
Na coxilha, ergueu-se a catedral. Juntas de bois tiveram espaço para manobrar. Plátanos me deram sombra. A “Bica”, com sua “água encantada”, atraía a todos. Mulheres da vida e homens corajosos a celebrizaram...
Possuía uma praiazinha junto ao Moinho, ponto de encontro das famílias fugindo do calor do verão. No Passo do Onze, à noite, havia uma banheira natural, onde as donzelas se banhavam, sempre acompanhadas de matronas.
A olaria do sogro do Marechal Mallet, tornou-se o lugar de descanso do herói. A Panela do Candal, onde o arroio Bagé se espraia e a lenda do seu fantasma.
As muitas trincheiras, sangue e balas...
Do alcanfor, azougue vivo, calomelanos levigados, jalapa em pó, ipecacuanha da Pharmácia de Dom Diogo, até o moderno Diprivan do Michael Jackson, foi uma longa caminhada.
O Capitão Dilermando, que serviu em um dos meus destacamentos militares, foi matar Euclides bem longe. Osório e Mallet aqui se casaram, com Francisca e Joaquina.
Mas a visita mais importante que recebi, até hoje, foi de princesa Isabel, a Redentora. A cidade engalanou-se para recebê-la. Te-Deum na Catedral.
As recordações já vão distantes, mas não esqueço da Tia Maria Treme-Treme, velhinha, nossa historiadora ambulante, mas não menos digna de crédito; da abnegada enfermeira Mãe Luciana e depois, muito tempo depois, de Dona Odite Moglia, dama da sociedade, vida dedicada à assistência social; da plêiade de educadores: Mélanie Granier, Alexandrina (Noca) Souza, Pery Coronel, Waldemar Machado e Eduardo Contreiras Rodrigues, mestre dos mestres.
João José Oliveira, o “João Turco”, dono de um ponto no Mercado Municipal, construiu uma capela em homenagem a São João, e no dia consagrado ao santo fazia quermesses em sua homenagem.
Cresci, me tornei nobre, sou a Rainha da Fronteira.
Tive filhos, hoje emancipados, graças a São Sebastião e a Nossa Senhora Auxiliadora, meus protetores. Assim, posso cuidar melhor de mim. Olho-os com carinho: a minha menina loira, Candiota, o gauchinho valente, Aceguá, e a minha primogênita, Hulha Negra.
Procuro me cultivar em todos os sentidos. Sou culta, tenho universidades, museus, bibliotecas, educandários.
Conservo meus prédios históricos. Possuo hospitais, dou assistência aos necessitados.
Cultivo as riquíssimas tradições que trago de berço e, sobretudo, honro meu brasão: a origem portuguesa, a fortaleza de Santa Tecla, os cerros verdes de nossos campos, as torres de minha cidade fortificada e grande. O azul da lealdade, a prata, do caráter nobre e altivo, o verde da fertilidade e riqueza da terra, o ouro do ardor e da força, o vermelho da coragem e da generosidade, sempre em defesa de nossa pátria.
Os índios, meus ancestrais, acreditavam que todos têm um espírito guia. As cidades também.
O meu é Sepé Tiaraju, que se opôs ao prosseguimento das tropas inimigas em Santa Tecla, dizendo: “esta terra me pertence, me foi dada por ‘Deus e São Miguel’”.
E eles recuaram.


FONTE JM

200 BOLOS PARA BAGÉ